Tenho fantasias
Que não chego a escrever
Nem conto a ninguém.
Esta, por exemplo,
De ver um paquete
No meu cinzeiro
De feitio oblongo!
Ponho nele, de pé,
As pontas dos cigarros.
São mastros
E chaminés fumegantes...
Os fósforos
São carregamento
E a cinza
São as cinzas das fornalhas...
Deito nele
Pedacinhos de papel que eu rasgo,
-- Restos de algum poema...
São cartas para longe.
Voam à roda do meu cinzeiro
Pequeninos insectos tropicais,
Companheiros nocturnos
Dos poetas da minha terra.
São os pássaros marinhos,
As gaivotas,
Que vêm espreitar
De perto o paquete.
Empurro-o com a mão
E o paquete lá vai,
Com o rumo traçado
Através do Atlântico.
Lá vai!
Os passageiros da primeira
Passeiam no «deck»
Ou jogam o «bridge».
E a rapariga loura
Estira-se indolente
Na cadeira de lona
A ler um romance...
No convés da terceira classe,
Um emigrante qualquer
Debruçou-se na borda
Olhando o horizonte...
Sou eu.
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