terça-feira, 16 de janeiro de 2018

#28 - NOSSO É O MAR, Sebastião da Gama

Nosso é o mar. Nosso e renosso.
Pla dor, pla teimosia, pela esperança.
Nosso até onde a vista o não alcança.
Nosso até onde é nosso o que for nosso.
 
Mas depois de o ter ganho abandonámos
alma e corpo à fadiga de o ter ganho.
Bartolomeu, não olhes. Não despertes
do sono que te dorme há cinco séculos.
 
Já o gume das quilhas não fecunda
teu ventre feminino, Mar aberto.
Falsa energia a nossa! Desflorado
teu sexo, Mar, aos corvos o cedemos.
 
Voluptuosa e saudável, tua carne
é convite e oferta como dantes.
Nós, mortos! Nós, sem força! Nós, sem fogo,
de uma saudade mole possuídos!

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