Os barcos padeciam da doença da pedra:
estavam imóveis sobre os ancoradouros
como se não existisse a tentação do mar.
Tinham cordas enrodilhadas, remos ensarilhados,
velame estendido no convés, e, para além disso,
um imenso vazio a inundar os porões e as pontes.
Apodreciam, pacientes, à míngua de vento,
saudoso do embalo das ondas,
desnorteados pela falta de rota.
Eram barcos com uma embriaguez de vento
erguida na proa e uma coroa de algas
levantada nos mastros. Vinham altivos
do mar de outros séculos, arrecadando no bojo
um tesouro de vozes, uma bravura corsária,
uma cobiça de oiro. Deitava-me neles
com um sonho enredado nas malhas que tiram
sustento das águas e com um mapa
para sempre guardado na febre dos olhos.
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