segunda-feira, 20 de outubro de 2014

#13 - BRISE MARINE, Stéphane Mallarmé

La chair est triste, hélas! et j'ai lu tous les livres.
Fuir! là-bas fuir! Je sens que des oiseaux sont ivres
D'etre parmi l'écume inconnue et les cieux!
Rien, ni les vieux jardins reflétés par les yeaux
Ne retiendra ce coeur qui dans la mer se trempe
O nuits! ni la clarté déserte de ma lampe
Sur le vide papier que la blancheur défend
Et ni la jeune femme allaitant son enfant.
Je partirai! Steamer balançant ta mâture,
Lèvre l'ancre pour une exotique nature!
Un Ennui, désolé par les cruels espoirs,
Croit encore à l'adieu suprême des mouchoirs!
Et, peut-être, les mâts, invitant les orages
Sont-ils de ceux qu'un vent penche sur les naufrages
Perdus, sans mâts, sans mâts, ni fertiles îlots...
Mais, ô mon coeur, entends le chant des matelots!

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

#12 - (FALA DO MAR), António Correia de Oliveira

-- Arte de Amar, eu fui antigamente
E sou, seu Mestre antigo e venerável.

No princípio do mundo, tempo incerto,
E quando a terra apenas aflorava
Num ar entorpecido, torvo e inútil,
Pois não surgira ainda vida viva
Que o respirasse em folha de verdura
Ou ave acasalada ou fera uivante;

No princípio do mundo (na incerteza,
no Tudo e Nada do começo) arfando
Em meus ondados, espraiados ritmos,
Eu fui o que ensinei primeiramente
A Terra inconsciente, agreste e rude,
Artes de Amor divino;  quer erguido
Em aluado espasmo; quer beijando
Morna nudez de fragas; quer cingindo,
Com meus longos abraços de volúpia,
Indecisos contornos de montanhas,
Puberdade de curvas amorosas.

E depois que ensinei minha arte antiga
É que a Terra foi Mãe e foi mais bela:

As duras fragas conceberam fontes.

As fontes conceberam as verduras.

As aves construíram os seus ninhos.

E as feras monstruosas, ternamente,
Caros filhos do Amor amamentaram...

terça-feira, 14 de outubro de 2014

#11 - MARINHA, Fernando Pessoa

Ditosos a quem acena
Um lenço de despedida!
São felizes: têm pena...
Eu sofro sem pena a vida.

Doo-me até onde penso,
E a dor é já de pensar,
Órfão de um sonho suspenso
Pela maré a vazar...

E sobe até mim, já farto
De improfíquas agonias,
No cais de onde nunca parto,
A maresia dos dias.